
Esme Slorrance é minha OC da Primeira temporada do RPG : Blood on the Clocktower (é um RPG dedução social, jogado em formato de texto pelo fórum de Amor Doce e via Discord), sua aparência foi inteiramente baseada na atriz Christina Ricci durante o filme Sleepy Hollow.
Esme é uma garota de 19 anos que passou sua vida inteira na pequena vila de Pontecorvo, é a filha única de um rico comerciante, sua mãe faleceu quando ainda era muito nova, então sempre obtém muita atenção de seu pai. É completamente apaixonada por livros de mistérios e esses são seus principais presentes vindos das inúmeras viagens que seu pai faz durante o trabalho. Seu pai vive a procurar pretendentes para a garota se casar, mas a moça vem recusando cada um deles com medo de deixar seu tão amado pai sozinho.
Dia Zero
Manhã
Faz dois dias desde a partida de meu pai a trabalho. Ser comerciante é deveras complicado na época em que vivemos, as viagens são longas, cansativas e bastante arriscadas, gostaria que ele pudesse vir a se aposentar logo, sempre conversamos sobre o tema antes de uma nova empreitada, mas se tudo ocorrer bem talvez essa seja a última delas e finalmente vamos ter um pouco de paz. Meu coração fica tão apertado ao vê-lo partir, minha estante não estaria tão cheia de livros sem suas aventuras pelo mundo, mas trocaria cada um deles sem pestanejar.
Falando em livros, esta manhã mesmo recomecei a ler Frankenstein de Mary Shelley e diga-se de passagem vem sendo muito bem ambientado pelo mal tempo que vem se formando nesses últimos dias por aqui, todavia me sinto grata ao fato pois incrementa minha leitura, a torna ainda mais emocionante, já que Pontecorvo apesar de suas inúmeras qualidades, pode ser tudo, menos dotada de eventos surpreendentes e interessantes, é maravilhoso pensar como seria uma vida de aventuras tais como as histórias que meu pai e o Sr. Branwen trocam sempre que meu pai retorna de uma de suas viagens.

Sean Branwen, que meu pai não venha a saber disso ou irá cogitar também me esposar a ele, além do Sr. Widogast, que mal terminou de chegar na vila e o Sr. Slorrance já estava pronto para descobrir se era um bom partido, detesto essa mania de meu pai em querer me casar, tenho só 19 anos e apesar da maioria das moças de minha idade já terem suas próprias famílias e filhos, não me importo de esperar mais alguns anos antes de lhe dar netos. Voltando ao Contador de Histórias, oh sim, mas que homem interessante, ele sim deixa Pontecorvo no chinelo com suas histórias, amo ouvi-lo narrar suas aventuras e meu pai que me perdoe, mas enquanto espero seu retorno, adoro escapar nas noites em que Sean trabalha na taverna, só para ter o prazer de ouvir sobre coisas novas e empolgantes.
Tarde
Pontecorvo nos promete de fato uma tempestade no dia de hoje, nunca vi o céu tão escuro e o vento tão forte tão cedo nessa época do ano, Madeleine minha criada terminou apressada os afazeres aqui em casa e me avisou que não viria nos próximos dias pois estaria em casa cuidando dos filhos pequenos, me alertou de forma concisa para que não saísse de casa, pelo menos até a tempestade passar e lhe confirmei pela terceira vez no dia que não botaria os pés pra fora de casa até seu retorno. O que significa, sem novas histórias de Sean pelos próximos dias, se bem que duvido muito que a taverna abra com esse mal tempo. Bom o que me resta por hoje é terminar janta e me enfiar nas cobertas com meu livro.
Não demorou muito e a tempestade finalmente começou a rugir lá fora e o dia escureceu ainda mais depressa que o habitual, o barulho das gotas tamborilando no telhado me deixam deveras sonolenta, acho que vou dormir mais cedo hoje.
Noite
Não consigo colocar em palavras o horror que estou sentindo, meu corpo ainda continua a tremer enquanto registro isso por escrito, a cena brutal parece ter sido marcada a fogo em minha mente. Juro pela alma de minha mãe que se pudesse voltar mais cedo nesse dia, não teria reclamado da pacata Pontecorvo em que vivia.
Já estava tarde e eu dormia profundamente pelo menos algumas horas, pois a chuva é um sonífero efetivo em minha pessoa, despertei de meu sono junto as badaladas inusitadas do relógio, que pelo que bem sabia, não eram habituais em dias de mal tempo. Por algum motivo, talvez por meu espírito jovem e minha sede de aventura, vi meu corpo se movendo sozinho para fora da cama, meus passos me guiaram até o andar de baixo, onde apanhei minha capa e vesti minhas botas de chuva, sem pensar muito nas consequências, quebrei a promessa que havia feito mais cedo a Madeleine e saí em direção da praça do relógio apenas para saciar minha curiosidade. A rua estava deserta e a chuva ricocheteava com força em meu rosto, como um aviso para meu retorno a segurança. Quase cogitei voltar para o aconchego de minhas cobertas, mas como nada realmente empolgante acontecia deixei minha curiosidade levar os créditos da empreitada e continuei a passos lentos contra o vento, até me ver parada no pátio da grande torre do relógio, que ainda acesa iluminava a noite escura, demorei um pouco a perceber a porta aberta, me dirigindo em direção a mesma sem dar ouvidos a razão, a cada degrau que subia em direção ao topo se tornava evidente que algo estava muito errado, ao conseguir discernir os primeiros sons de combate, pude finalmente identificar as vozes que discutiam entre si, uma delas eu conhecia muito bem e estava familiarizada por escutar diversas vezes as narrações, Sean Branwen.
Me apressei pelos últimos degraus, todavia antes que pudesse cobrir toda a distância, senti meu corpo congelar, paralizada de medo pude somente ouvir um grito alto e agudo de dor e logo em seguida descendo as escadas, para minha surpresa não estava ali o homem que eu esperava, mas sim outro, com os cabelos e olhos muito escuros e manchado de de gotículas rubras, que geravam contraste em sua pele pálida, em seus lábios um sorriso sádico, o próprio Demônio descia os degraus sem muita preocupação parecendo se divertir com o fato de me encontrar bisbilhotando por ali. Fui recuando a passos lentos a medida que ele avançava, meu pé por um momento não sentiu o degrau anterior e me vi quase que a flutuar escada abaixo em queda livre, mas antes que pudesse notar me senti amparada por suas mãos, fazendo com que nossos corpos ficassem bem próximos e ele pudesse sentir minha respiração cortada e o coração em diaparada como uma presa no momento do abate, seus olhos escuros pareciam de fato ver minha alma, cada partícula suja e ruim, cada pensamento maldoso de minha vida inteira, nos separamos e sua mão segurou meu ombro de maneira firme enquanto descíamos os degraus até o térreo, não tirando os olhos de mim nem por um instante. Ele me ofereceu um pacto em troca de manter minha boca calada a respeito do ocorrido e lhe ajudar futuramente, me contou o que meu pai fizera para enriquecer, em que negócios sujos havia se metido para se aposentar e ficar ao meu lado, como em tudo até então eu tinha

uma parcela de culpa, mas tudo ficaria bem, se o auxiliasse, ele me garantiu que meu pai voltaria para casa bem, vivo.
Ao sair da torre e olhar para cima, completamente horrorizada percebi o que eu havia vendido em troca da segurança da minha família, o homem antes cheio de vida, que iluminava meus dias jazia com seu torso empalado pelo ponteiro maior do relógio e seu sangue diluído na chuva que não parava de cair manchava tudo ao redor, inclusive minhas roupas, cai de joelhos em frente a construção e estarrecida pela cena e me mantive assim até a chegada de alguns dos meus vizinhos e da polícia que retirava com certa dificuldade o corpo brutalmente assassinado.
Madrugada
Mesmo após o banho que tomei na volta pra casa, por mais que esfregasse ainda podia vislumbrar o sangue dele em minha pele, em minhas mãos, é minha culpa, afinal não fiz nada para ajuda-lo e ainda havia me unido ao seu algoz.
Demorei a pegar no sono, minha mente não cedia, mesmo com meu corpo mais do que exaurido pelo ocorrido. Em algum momento eu consegui dormir, nem mesmo me lembro como, mas os sonhos eram na realidade piores que os pensamentos que tenho desperta, não parava de ver o mundo vermelho como se manchado de sangue e os olhos macabros do homem com sua voz repetindo de novo e de novo em meio a um riso assustador "Temos um acordo?".
Despertei de meu pesadelo com um pulo, colocando a mão sobre o peito e me sentando na beirada da cama, buscando o copo d'água que costumeiramente ficava ao lado, mas antes que pudesse encontra-lo levei minha atenção a cadeira de balanço no canto do quarto, algo parecia me observar e corri até a escrivaninha para acender a lamparina, temia que o Dêmonio em carne e osso houvesse mudado de idéia e vindo ao meu encalço, mas ao iluminar o quarto pude notar uma silhueta fantasmagórica que ao fazer uma breve reverência me informou que meu acordo me rendeu uma segunda responsabilidade, a de Envenenadora.
Aquele era mesmo Sean? Estava encharcado até os ossos de água e sangue e era visível a ferida aberta em seu torso, mas como poderia ser real se o havia visto morto hoje mais cedo naquela mesma noite tempestuosa? Até agora fico a me perguntar se minha mente perturbada pelo ocorrido não está a me pregar uma peça pela tamanha culpa que sinto desde então. Porém ele falou comigo e parecia tão triste, que partiu meu coração em dois, me pediu o nome de um de meus vizinhos e lhe dei o de Dominique Hatter, foi o primeiro que me veio em mente. Todavia no momento em que tentei dormir novamente ele se foi. Será que eu deveria mesmo estar fazendo isso, sendo cumplice de um assassinato, de sua morte tão prematura?
Mesmo que viesse a ter uma escolha, a vida de meu pai também está em jogo e Ele deixou bem claro o que aconteceria se não cumprisse minha parte no acordo, sinto como se um buraco ouvesse sido aberto em meu peito e a beira de um precipício minha única escolha fosse a de me jogar para a escuridão, mas peço a você que está de algum lugar a me olhar, que por favor mamãe me de forças para aguentar o que está por vir!
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